Saiba quais fatores são usados para identificar o pico da pandemia no Brasil
Para estimar um dado mais exato para o pico, é preciso analisar o número de casos, óbitos, taxa de reprodução e doenças associadas à respiração


Desde o primeiro caso de Covid-19 no Brasil, registrado em 26 de fevereiro, até a instauração de medidas de isolamento social como forma de combate a proliferação do novo coronavírus, já se passaram pouco mais de três meses. E o País ainda não atingiu o pico de casos da Covid-19 estimados para que a curva da doença possa diminuir. Pelo contrário, os números de infecções e óbitos seguem aumentando. Mas, afinal, quando alcançamos o pico da pandemia?
De acordo com publicação feita pela BBC Brasil, cientistas e pesquisadores apontam que é importante entender que um único pico da doença no Brasil, sendo um país de tamanho continental, é equivalente a esperar que toda a Europa apresenta um único número para todos os seus países.
“Não existe uma epidemia única no Brasil. Temos uma pandemia composta por diversas epidemias locais, com padrões diferentes”, disse Márcio Sommer Bittencourt, médico do centro de pesquisa clínica e epidemiológica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP) em entrevista ao portal.
Assim, é fundamental que os dados sejam coletados acompanhando a evolução em cada Estado ou, até mesmo, em cada região de um mesmo Estado. Para, só então, montar um média para o País. Os cientistas também apontam a facilidade de identificar o auge de uma pandemia apenas quando já passamos dela e quando vemos que houve uma redução consistente de alguns fatores. Como os que serão listados abaixo.
Fator 1: número de novos casos e mortes por dia
É essencial avaliar as estatísticas oficiais sobre novos casos e mortes registradas por dia. Isto porque, enquanto houver crescimento no número de casos, não será possível informar uma data para o pico.
A queda nos números também não pode ser pontual. Deve permanecer em queda por pelo menos duas semanas, período de incubação do novo coronavírus e tempo que os epidemiologistas consideram suficiente para saber que não foi só uma oscilação.
Essa diminuição ainda não aconteceu no Brasil, segundo o professor da Faculdade Medicina da USP em Ribeirão Preto e colaborador do portal Covid-19, que monitora a pandemia no País. Além de estar se direcionando também ao interior, já que até meados de maio, os casos estavam concentrados nas capitais do País. “Os números de novos casos e mortes não estão só aumentando. Esse crescimento também está acelerando. Nessa toada, o pico só deve ocorrer entre o meio e o final de agosto.”
Fator 2: taxa de reprodução do vírus
O segundo fator a ser analisado é a taxa de reprodução do vírus, também chamada de Rt. Este índice é utilizado por epidemiologistas para identificar quantas pessoas em média são contaminadas por alguém que está com o Sars-CoV-2.
O recomendado é que este número caia e se aproxime de 1. Dessa forma, estaríamos próximos do pico da epidemia. O mesmo índice informará quando passamos do pico da doença ao registrar um valor abaixo de 1, durante um período constante.
Em monitoramento feito pelos pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), a taxa de reprodução está em queda desde o final de abril. Porém, segundo dados mais atuais o Rt continua acima de 1 em quase todos os Estados. As exceções são Amazonas (0,96), Pernambuco (0,95) e Rio Grande do Norte (0,93).
Para uma reabertura, o ideal é ao menos ter a taxa controlada próximo de 1 ou “confortavelmente” abaixo de 0,8, de acordo com Renato Coutinho, professor da Universidade Federal do ABC e integrante do Observatório Covid-19, um grupo de pesquisadores que faz análises sobre a pandemia.
Fator 3: casos de síndrome respiratória aguda grave
Levando em consideração que o Brasil realizou poucos testes de covid-19, se comparado com outros países do mundo, um novo índice vêm chamando atenção dos pesquisadores. Se trata dos casos de síndrome respiratória aguda grave (sdrag). Estes estão sendo notificados oficialmente pelos hospitais no Brasil desde 2009 com a epidemia de H1N1, doença que também afeta a respiração.
De acordo com a BBC Brasil, assim que uma pessoa procura ajuda médica, isso é registrado pelo Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Apesar desses dados não afetarem os problemas de testagem do novo coronavírus, eles estão sendo um bom medidor para comparar o crescimento de doenças respiratórias, epidêmicas aqui no Brasil, com os avanços da pandemia.
Até o momento, foram notificados 159 mil casos de sdrag em 2020. Número quatro vezes maior que no ano anterior. Desse indicativo, 63 mil testaram positivo para algum vírus, e, em 98% deles, o resultado foi o novo coronavírus.
A indicação desse sistema da Fiocruz é que a tendência geral no país é de estabilização das novas notificações de sdrag. Mesmo que em um patamar muito acima do normal, de acordo com Marcelo Gomes, coordenador do Infogripe. Gomes ainda destaca que a flexibilização das medidas de distanciamento social irão facilitar o contágio enquanto o vírus ainda estiver circulando amplamente.
Projeto Agir Brasil
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