Coronavírus leva hospitais a reduzirem até 90% das cirurgias eletivas

Hospitais já preveem demissões e buscam linhas especiais de financiamento e negociação com operadoras de planos de saúde

11:32 | 27 de Apr de 2020 Por Paula Lima
Coronavírus leva hospitais a  reduzirem até 90% das cirurgias eletivas

Albert Einstein, em São Paulo, 520 cirurgias foram canceladas em abril por conta da Covid-19. Foto: Divulgação

Hospitais privados e filantrópicos de todo o país registram queda de até 90% no movimento por causa do cancelamento de exames e cirurgias eletivas causados pela pandemia de Covid-19, segundo reportagem da Folha de S.Paulo, desta segunda, 27.

O valor das perdas ainda está sendo calculado pelas entidades representativas, mas já existem hospitais dando férias coletivas e dispensando funcionários. Algumas instituições vivem a ameaça de fechamento a partir do fim de abril.

O setor, juntamente com a área de medicina diagnóstica, busca linhas especiais de financiamento no BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento), e tem feito gestões no Ministério da Economia para isso, diz o jornal Folha de S.Paulo.

O faturamento do setor é de R$ 83,7 bilhões, 82% pagos por operadoras de saúde. Por isso, a negociação com as operadors de saúde gira em torno do repasse. A negociação é para por um período de três a quatro meses, de parte da receita estimada que teriam se estivessem trabalhando dentro da normalidade.

“Os hospitais grandes ainda conseguem aguentar dois, três meses. Mas os pequenos e médios, que carregam o Brasil, vão fechar as portas, estão quebrando, não conseguem pagar os colaboradores [funcionários]”, diz o urologista Adelvânio Francisco Morato, presidente da Federação Brasileira dos Hospitais (FBH).

Morato dirige um hospital em Goiânia com 90 leitos dedicados à urologia, cardiologia e cirurgia geral. Trabalha hoje com apenas 10% da capacidade —até fevereiro, a taxa girava entre 75% e 80%. Como urologista, fazia 250 procedimentos ao mês. Entre março e abril, não chegou a 50.

“O pico [da pandemia] ainda não aconteceu, não vimos esses pacientes da Covid-19, e as cirurgias eletivas desapareceram. Em alguns lugares, a taxa de ocupação dos leitos caiu 90%”, diz Eduardo Amaro, presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp).

No Albert Einstein, em São Paulo, 520 cirurgias foram canceladas neste mês por conta da Covid-19. Como cirurgião, Amaro fazia de 40 a 50 operações por mês. Em abril fez quatro procedimentos de urgência. Em março de 2019, o hospital realizou 2.393 cirurgias. No mês passado, foram 1.635.

A Bionexo, que tem 127 hospitais como clientes na gestão de procedimentos que demandam órteses e próteses, afirma que a sua base de dados mostra que, na primeira semana de março, foram realizadas 5.800 cirurgias. Um mês depois, no início de abril, foram 1.800.

De acordo com Amaro, da Anahp, foi proposto às operadoras que os hospitais recebessem 85% do valor faturado no mesmo mês do ano passado, por três a quatro meses. Segundo Reinaldo Sheibe, presidente da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde), a entidade reconhece as dificuldades dos hospitais e que já orientou seus associados a negociarem alternativas diretamente com eles.