30 milhões de latino-americanos irão à pobreza, afirma Cepal
Mulheres e os novos pobres estão entre os mais afetados pela pandemia do novo coronavírus


A secretária-executiva da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), Alicia Bárcena, deu entrevista à BBC News Brasil e apontou algumas consequências sociais da quarentena e dos rastros da pandemia de covid-19 entre os latino-americanos.
As mulheres e os novos pobres serão os mais prejudicados pelos efeitos econômicos e sociais da pandemia do novo coronavírus.
Bárcena repassou as novas projeções econômicas da Cepal para a América Latina. A queda prevista é de 5,3% do PIB da região, que é a pior da sua história desde a Grande Depressão na década de 1920.
Isso significa que quase 30 milhões serão empurrados para a pobreza na América Latina. O cálculo é feito com base na previsão de queda do PIB dos EUA, a maior economia do mundo, deve recuar 3,8%.
Confira os principais trechos da entrevista de Alicia Bárcena:
– “Acho que o aumento da pobreza virá exatamente destes setores que tinham conseguido sair da pobreza e da pobreza extrema e que vão voltar a esta condição. Com o aumento de 186 milhões para 214 milhões de pobres, estamos falando de quase 30 milhões de pobres a mais na região. Nesse número, está incluída a pobreza extrema. A região tinha conseguido avançar, mas agora estamos preocupados porque estamos numa situação de retrocesso.”
– “Uma das coisas que já estão fazendo (para amenizar a tragédia) na região é proteger o emprego e os salários. Acho que essa é a parte mais importante das medidas que estão sendo tomadas pelos países. Manter o emprego dos trabalhadores formais, mas também dos informais.”
– “A região tem 53% de pessoas que trabalham na informalidade. Essas pessoas também precisam de apoio. E as pequenas e médias empresas também precisam de proteção. Porque é importante evitar a perda da capacidade produtiva da região.”
– “O fundamental é proteger os mais vulneráveis. Em 2002, a região tinha cerca de 226 milhões de pobres e a região conseguiu diminuir esta cifra fortemente entre 2002 e 2014. E chegou a ter, em certo momento, 174 milhões de pobres. E agora estamos falando de 214 milhões de pobres (como efeito da pandemia).”
– “71% das pessoas dos serviços médicos são mulheres. Ao mesmo tempo, aumentou a pressão contra as mulheres com a pandemia. Agora, elas são responsáveis pelos adultos, pelos idosos, pelas crianças. Elas devem apoiar seus filhos na parte escolar, porque às vezes os parceiros ajudam e às vezes não.”
– “Aumentou a pressão contra as mulheres nas casas. Ou porque têm que fazer home office ou porque o trabalho aumentou porque as crianças não estão indo ao colégio. Então, elas têm uma pressão dobrada. Além disso, existe a violência doméstica é um assunto muito preocupante nessa pandemia.”