Lhama: um caminho de cura para o coronavírus

Anticorpo de lhama teve sucesso em neutralizar Sars-CoV-2, segundo pesquisadores na Bélgica

20:40 | 08 de May de 2020 Por Paula Lima
Lhama: um caminho de cura para o coronavírus

Lhama Winter foi escolhida por pesquisadores na Bélgica, onde ela vive, para participar de estudos. (Foto: Divulgação VIB-UGent Center for Medical Biotechnology)

Pesquisadores na Bélgica, escolheram uma lhama chamada Winter, de 4 anos, para participar de estudos com vírus envolvendo a Sars (síndrome aguda respiratória grave) e Mers (síndrome respiratória do Oriente Médio). Foi descoberto que seus anticorpos repeliram essas infecções e os cientistas apostam que esses mesmos anticorpos poderiam neutralizar o novo vírus que causa a Covid-19. A confirmação foi publicada na última terça-feira, 5, na revista Cell. Há uma nova esperança para a cura do coronavírus.

Não é a primeira vez que os cientistas usam lhamas em pesquisa de anticorpos. Segundo o jornal New York Times, na última década, anticorpos desses animais foram utilizados em pesquisas dos vírus HIV e da gripe influenza e revelaram terapias promissoras para ambos.

A explicação científica está no tamanho dos anticorpos da lhama em comparação com o dos seres humanos. “Os seres humanos só produzem um tipo de anticorpo, feito de dois tipos de cadeias de proteínas —pesadas e leves— que juntas assumem a forma de um Y. As proteínas de cadeias pesadas ocupam o Y inteiro, enquanto as proteínas de cadeias leves só tocam os braços do Y. As lhamas, por sua vez, produzem dois tipos de anticorpos. Um deles é semelhante em tamanho e constituição aos anticorpos humanos. Mas o outro é muito menor; tem apenas 25% do tamanho dos anticorpos humanos. O anticorpo da lhama também forma um Y, mas seus braços são muito mais curtos porque ele não tem cadeias leves de proteínas”, explica a matéria do New York Times.

Esse anticorpo menor do que o dos seres humanos consegue acessar as proteínas espinhosas responsáveis por permitirem que vírus como o coronavírus penetrem nas células hospedeiras e nos infectem—, o que os anticorpos humanos não conseguem.

Início da pesquisa sobre coronavírus

Ainda em 2016, Xavier Saelens, virologista molecular na Universidade de Ghent, na Bélgica, Wrapp, estudante de graduação afiliado à Universidade do Texas em Austin e ao Dartmouth College e coautor da nova pesquisa e o doutor Jason McLellan, virologista estrutural na Universidade do Texas em Austin, e outros pesquisadores examinaram lhamas —e especificamente Winter— para encontrar um anticorpo menor “que pudesse neutralizar de modo geral muitos tipos diferentes de coronavírus”, disse McLellan.

Os pesquisadores estavam escrevendo suas conclusões quando o novo coronavírus começou a se espalhar pelo mundo no início de 2020. Eles então perceberam que os anticorpos menores da lhama “capazes de neutralizar a Sars muito provavelmente também reconheceriam o vírus da Covid-19”, disse Saelens.

E, bingo!, foi inibido o coronavírus nas culturas de células, disseram os pesquisadores.

A esperança está em usar o anticorpo futuramente como tratamento profilático, injetado em pessoas não infectadas, como os profissionais de saúde, para protegê-las do vírus. A proteção do tratamento seria imediata, mas seus efeitos não seriam permanentes, durando apenas um ou dois meses sem injeções adicionais. Os pesquisadores estão avançando para testes clínicos, mas a abordagem em humanos ainda está distante.

“Ainda há muito trabalho a ser feito antes de tentarmos usar isso na clínica”, disse Saelens.

Projeto Agir Brasil

Acesse mais notícias sobre o novo coronavírus navegando por aqui. Além de textos, você tem acesso a conteúdos de vídeos e podcasts. Vamos atravessar esta pandemia juntos.